terça-feira, 3 de abril de 2007

´´As veias abertas do Extremo Leste´´

fonte: http://www.portinari.org.br
Retirantes 1955. Cândido Portinari
Esse título vem de um Livro do Eduardo Galeano, grande poeta e escritor Uruguaiano, que fala da Memória viva da América Latina, tratando-a como memória viva humana.

Moro num bairro chamado Itaim paulista no extremo leste de São Paulo. A maioria da população que formou esse bairro e os vizinhos, como São Miguel Paulista, São migrantes de alguma região do nordeste, minha família mesmo é do Ceará, a do meu vizinho da Paraíba, do outro Maranhão e etc.

Vieram em busca de trabalho e melhor qualidade de vida, uma grande demanda de migrantes para trabalhar em industrias, nos Bairros de Tatuapé, Penha, Brás e etc. Meu pai mesmo veio em 1974 e trabalhou em uma fábrica no Tatuapé. Em busca de mão de obra barata e pouco especializada, para trabalhos mecânicos e com cunho de linha de produção, a indústria precisava de braços, não de cabeças, pra confecção de produtos, com o objetivo de criar um campo grande de consumo. Como o que se tem hoje.Uma comunidade e juventude consumista, superficial e explorada. Minha mãe e quase todas minhas tias, trabalharam em linhas de produção. Foi se criando no extremos desses bairros de Periferia, outros bairros conhecidos como extremo lestes (aqueles bairros que quase não se acha no mapa). Como Itaim Paulista, São Miguel Paulista, Ermelino Matarazzo. Onde a maioria, da classe operaria se instalou.

Pensando nisso descobri como nosso bairro é colonizado. Pelo grande sistema de ´´Tecnocratas´´, que dominam hoje a vida desses bairros. Não se vem de um lugar, não se identifica uma raiz cultural, por que a cultura foi esquecida e dispersada, o resgate dos valores é a novela das oito que traz. E a Cultura é trocada a cada nova tendência televisionada.
Agora minha prima, eu e a maioria de meus amigos trabalham em empresas de Telemarketing, como minhas tinham trabalhavam em linhas de produçao, mas agora não se necessita tanto de braços, mas de cabeças, manipulaveis pro consumo, para o fortalecimento do mercado e enfraquecimento da opção, da personalidade e do trabalho como contribuição de um individuo pra a sociedade, mas sim como ´´serviço´´- Servir.

Que cada adolescente que não teve base, quando não esta desempregado, consegue esse serviço que é a onda do Mercado, trabalhando com sistemas hipócritas e streessantes de pouco resultado profissional para crescer esse campo de uma industria individualista, competitiva e consumista.

Também, onde estudantes são apontados na cara pelos professores na faculdade, ou até qualquer curso técnico que dizem: Você não tem base! desculpa! por isso você não entende!(Valeu Sérgio!rsrs). As escolas ensinam que o que se deve ter, não se tem senão for do jeito que o Mercado de trabalho quer, e isso se reflete no País que não funciona em sistema de nação, mas de congresso. Ela prepara pra um mercado de trabalho, não pra um trabalho, ou uma escolha. As políticas públicas são instáveis, e de interesse partidário, e a cultura recebe a importância que o´´Brasil´´lhe dá: 2% de investimento, com abaixos assinados e manifestações a favor do seu aumento, enquanto deputados aumentam seus proprios salários, como a País não é nação, o público também é privado. Os espaços culturais não fomentam, cultura, criam cargos oportunistas. E de índole partidária não respeitando a livre expressão.

O resquício que se fica dessas aculturização, é uma música na boca do nosso vô, que a gente ouve desde pequeno mas não entende o que é; uma palavra ou expressão da nossa mãe: Ochi! que a gente repete sem saber de onde vem; quando muito uma historia velha do seu pai, de um brinquedo velho que ele mesmo fez.

Rafael Araújo Teixeira

Finalizo com três vozes que já me traduziram e como diz galeano, por mais fodido e lascado que se esteja, sempre haverá um conpatriota em algum lugar, mesmo que não seja nesse tempo, nem nesse lugar que se está... mas na celebração de nossas humanidades que é imtemopral.

"Quero falar dessa gente que só berra da geral sem nunca influir no resultado. É disso que quero falar." Plínio Marcos

"A gente vai se acostumando...A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma." Clarice Lispector

"Enquanto a Loucura diz que tudo isso é normal, eu finjo ter paciência" Lenine

Por Rafael Araújo

Um comentário:

Samara Oliveira disse...

Rafael este seu relato é real, e também muito triste. A burguesia que domina a mídia mostra uma "realidade" que não é a nossa, brincam conosco como se fôssemos bonecos, hoje dizem que usar chapéu de couro está na moda. Amanhã meus vizinhos estarão todos usando, e os outros estarão produzindo para vender na feira. As coisas são muito previsíveis.

Eles nos dizem como nos vestir, o que comer, e onde trabalhar. Até quando?