No Brasil todo mundo é leão, é tigre, é onça, todos rugem, mas ninguém morde ninguém.
Todo mundo na selva sabe quem são predadores e aonde dormem os inimigos, mas as garras finas e elegantes vão sempre desfilar seus óculos escuros no palco fino do açougue que vende carne de primeira. Tamanduá tomando conta do formigueiro.
Outro dia um abutre –ô bicho ruim!-, disse que os esquilos tinham que serem enjaulados logo que nascessem. E que a culpa toda não era das hienas que riam sobre a carniça, mas das coelhas que não paravam de parir. O discurso foi muito aplaudido pelas raposas.
Na floresta miúda, enquanto calangos e micos-leões-dourados disputavam migalhas para não extinguir, uma cobra, de terno e gravata, espreitava um papagaio vestido com a camiseta da águia americana. Nada mais animal. Com olhos de lince, a pantera assistia tudo vestindo uma boina a Che Guevara. O silêncio do pântano mata mais que o grito do jardim.
O Sapo de barba prometeu a promessa do tucano empolado, será? Sei não, esses bichos são muitos esquisitos...
Só sei que os pintinhos estão com fome, e, no galinheiro, as galinhas mortas estão assistindo briga de galo, já que o milho não dá pra todo mundo. Pra piorar, os porcos não querem nem saber, só se preocupam em se lambuzar na lavagem.
Do outro lado da mata, paradoxo total, todo mundo quer abraçar o Maracanã num país cheio de bicho abandonado, carente de abraços.
Sempre que morre um canarinho aparece um pavão com lágrimas de crocodilo para decorar o velório alheio. Pardal não canta, por isso morre em silêncio.
Outro dia um falcão segurando uma AR15 disse: “se morre um, nasce outro em seu lugar”. Só o burro não entendeu.
As antas também não entenderam que os bezerros são educados no semáforo porque os bois estão mamando livremente nas tetas da vaca.
Uma caneta na mão de um lobo é tão mortal quanto um 38 na mão de outro lobo. Pena de morte para o lobo de caneta?
-Justiça! Grita o gado a caminho do matadouro.
Infelizmente nascemos com uma jaula no coração. Por isso, latimos como cães, mas agimos como frangos.
Por Sérgio Vaz
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