FRAGMENTOS
jonilson montalvão
O Dadaísmo, na literatura, de certa forma, nos deu a fragmentação; ali o percusor e poeta Tristan Tzara, de certa forma, nos mostrava como fazer um poema em "Para fazer um poema dadaísta...”:
"Pegue num jornal.
Pegue numa tesoura.
Escolha no jornal um artigo com o comprimento que pretende dar ao seu poema.
Recorte o artigo.
Em seguida, recorte cuidadosamente as palavras que compõem o artigo e coloque-as num saco.
Agite suavemente.
Depois, retire os recortes uns a seguir aos outros.
Transcreva-os escrupulosamente pela ordem que eles saíram do saco.
O poema parecer-se-á consigo.
E você será um escritor infinitamente original, de uma encantadora sensibilidade, ainda que incompreendido pelas pessoas vulgares.
Brincando, brincando. Cínico, se assim podemos dizer. Sutilezas e percalços a serem removidos da chamada literatura séria. Quanto mais séria melhor será para a falência das palavras.
Tento jogar (com) as palavras e ao mesmo tempo me preocupo com alguns parcos leitores que por ventura passem os olhos sobre essa página. O grande barato é não pensar em linha reta. Acho que isso tem a ver com essa modernidade toda, não há mais paciência em ler grandes textos; hoje a imagem está cada dia mais latente e isso faz com que a gente também se torne refém dela. Mesmo nos não sabendo ler tais imagens. Às vezes precisamos de legendas para as imagens, pelo menos os jornais acreditam nisso.
Quem se atreveria hoje a publicar fotos pequenas e sem legendas em revistas e jornais? Talvez os “alternativos”. Talvez.
Já há algum tempo li um texto na revista Carta Capital. O artigo foi assinado por Mino Carta e chama-se “História de um povo traído”. Esse artigo-crônica é um golpe fortíssimo em nossas cabeças; nós, a grande parte estarrecida, lemos e, imóveis, pensamos em que situação o Brasil – o gigante adormecido, a bela que dorme o sono eterno – meteu-se. Ou, pelo lado mais amplo da questão, a classe dominante, elite, ou outro nome qualquer que lhe é dado apoderou-se dessa imensidão de terra e faz e aterroriza desde sempre.
Essa podridão nos é imposta e somos levados pela miséria, arrogância com que uma minoria de “afortunados” se satisfaz e outros tantos desgraçados são acorrentados e elevados à condição de subalternos; uma situação que permanece inalterada e parece que nada consegue mudar este trajeto. Sutilezas políticas e blábláblá não resolvem nada. Temos que nos resolver na base cultural, visualizarmos outras possibilidades de alterações socioculturais e econômicas.
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Vi um filme chamado “Um filme falado”, o diretor é o português Manuel de Oliveira, um super diretor, uma lenda vida do cinema. Esse cara tem uma visão muito aguçada sobre o cinema; é um filme bem realizado, uma direção de atores bacana. O filme é sobre a viagem de uma professora de história com sua filha. Ela está indo ao encontro do seu marido, que é piloto de avião e está a esperando numa outra cidade por onde o navio passará. Então aproveitando a oportunidade, a professora começa a percorrer, de navio, o mediterrâneo e narrando para sua filha a história da civilização. São imagens sensacionais de cidades incríveis como Pompéia, Atenas e outras. Não é um filme muito convencional, a personagem fala muito, aliás, o filme todo baseia-se em cenas paradas e com muita conversa. Não concordei muito com alguns teores dessa explicação histórica que a professora passa para sua filha, é uma visão muito eurocentrica, igual a alguns livros escolares que nós estudamos nas escolas. Infelizmente eles ainda se acham o centro do mundo.
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