Vou-me embora pra Passo Fundo
Acabo de chegar em São Paulo. Estava numa cidade do interior do Rio Grande do Sul para desenvolver quatro palestras a respeito de minha trajetória literária e do meu segundo livro, o “85 Letras e um Disparo”, a convite do projeto “Mundo da Leitura” da Universidade de Passo Fundo, na pessoa de Tânia Rösing.
Confesso que esperava uma boa recepção, mas me surpreendi. Não sabia que seria tão valorizado como escritor, já que este rótulo está cada vez mais em baixa cada ano que passa.
O fato é que a cidade de Passo Fundo, que tem 200 mil habitantes, pensa e produz literatura. Imaginem que cheguei ao hotel e lá a maioria dos funcionários já conheciam o meu trabalho.
- Bah, então é tu que é o Sacolinha? Já li seu livro.
Outro:
- O senhor é quem é o personagem do conto Yakissoba?
E mais uma:
- Nossa, vi uma matéria com o senhor na TV. Estávamos ansiosos com sua presença.
Eita que fiquei feliz em saber que em alguns lugares as pessoas reconhecem o nosso esforço literário.
Mas isso não foi nada perto do que aconteceu.
Conheci um pouco da cidade através do Profº Eládio, que me acompanhou nos dois primeiros dias. Foi ele quem me apresentou uma praça que tem o nome de “Largo da Literatura”, onde há uma árvore plantada no meio do concreto e que seu fruto são as letras. Nesta mesma praça existem dois Túneis da Cultura, com acessibilidade para portadores de deficiência e que é usado para contação de histórias para a criançada.
Eládio me mostrou também os muros (na avenida principal) onde existem dezenas de poesias escritas, poesias que já passaram pelos ônibus e que depois dos muros vão para os livros. E são de autores da própria cidade.
Com tudo isso percebi que os monitores do Mundo da Leitura, não se preocupam apenas com o produto “livro”, mas valorizam os três instrumentos necessários para o fazer literário; o leitor, o livro e o autor.
Nas quatro palestras que ministrei falei para mais de 700 pessoas dos municípios de Sarandi, Barra Funda, Rondinha, Boa Vista das Missões, Palmeiras das Missões, Constantina e Passo Fundo. As palestras lotaram de adolescentes e jovens querendo participar. E percebi que todos eles tiveram um preparo para esse momento. Muitos leram o livro e fizeram grupos de estudo em torno dele. Portanto, eu já não mais esperava qualquer pergunta.
Concedi seis entrevistas para rádio, TV e para estudantes de jornalismo, falando de “Literatura” para ouvintes e telespectadores. Entendem? Falando de “Literatura”. Ressalto isso porque na maioria das entrevistas que dou, sempre querem saber qual a minha opinião sobre a violência na periferia, sobre a posição de fulano a respeito disso e daquilo, enfim, falo de tudo, menos do que eu gosto; a Literatura.
No segundo dia, eu estava com a manhã livre, e como sempre faço, saí do hotel para andar pelo centro da cidade. E não é que parecia que todos me conheciam?
Encontrei um monte de leitores pelas ruas, uns apontavam dizendo:
- Olha, é o Sacolinha, aquele das 85 Letras.
Outros me paravam para uma prosa. De noite encontrei mais três pessoas que disseram ter me visto passeando pelas ruas centrais.
É, não é a toa que Passo Fundo é a Capital Nacional da Literatura, os envolvidos com o projeto fazem jus ao nome. Que nasçam outras capitais da literatura, para que o leitor tenha um olhar literário e não somente de passa tempo e entretenimento. Para que o livro tenha seu valor histórico e cultural reconhecido e que o escritor seja valorizado como um trabalhador das letras, alguém que consiga sobreviver com o que faz. Como exemplo, eu cito o próprio Moacyr Scliar, meu amigo, que mora em Porto Alegre e tem mais de 70 livros publicados, mas até hoje ele não consegue sobreviver com as vendas dos livros e com as palestras. Ministra aulas de medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul para complementar a renda.
E como se não bastasse tudo isso nesta cidade, fiquei vislumbrado com as estrelas no céu. Os professores que estavam comigo na volta de Sarandi, até estranharam, mas expliquei que aqui em São Paulo não se tem mais a oportunidade de ver as estrelas, a poluição e a correria do dia-a-dia não deixam. E pra ter uma idéia do sossego existente em Passo Fundo, os carros atingem uma distância considerável um do outro e consegue-se andar tranquilamente com o carro na quinta marcha. Viva a economia de combustível e a qualidade de vida.
A cidade é grande, mas consegue-se atravessá-la em 15 minutos. O ar tem aquele cheiro gostoso de mato e terra. É a natureza em evidência.
Vou-me embora para Passo Fundo, é lá que vou viver bem com os cinco filhos que pretendo ter.
Sacolinha, é autor dos livros “Graduado em Marginalidade” (romance – ed. do autor) e “85 Letras e um Disparo” (contos – 2ªed. Global editora).
Acabo de chegar em São Paulo. Estava numa cidade do interior do Rio Grande do Sul para desenvolver quatro palestras a respeito de minha trajetória literária e do meu segundo livro, o “85 Letras e um Disparo”, a convite do projeto “Mundo da Leitura” da Universidade de Passo Fundo, na pessoa de Tânia Rösing.
Confesso que esperava uma boa recepção, mas me surpreendi. Não sabia que seria tão valorizado como escritor, já que este rótulo está cada vez mais em baixa cada ano que passa.
O fato é que a cidade de Passo Fundo, que tem 200 mil habitantes, pensa e produz literatura. Imaginem que cheguei ao hotel e lá a maioria dos funcionários já conheciam o meu trabalho.
- Bah, então é tu que é o Sacolinha? Já li seu livro.
Outro:
- O senhor é quem é o personagem do conto Yakissoba?
E mais uma:
- Nossa, vi uma matéria com o senhor na TV. Estávamos ansiosos com sua presença.
Eita que fiquei feliz em saber que em alguns lugares as pessoas reconhecem o nosso esforço literário.
Mas isso não foi nada perto do que aconteceu.
Conheci um pouco da cidade através do Profº Eládio, que me acompanhou nos dois primeiros dias. Foi ele quem me apresentou uma praça que tem o nome de “Largo da Literatura”, onde há uma árvore plantada no meio do concreto e que seu fruto são as letras. Nesta mesma praça existem dois Túneis da Cultura, com acessibilidade para portadores de deficiência e que é usado para contação de histórias para a criançada.
Eládio me mostrou também os muros (na avenida principal) onde existem dezenas de poesias escritas, poesias que já passaram pelos ônibus e que depois dos muros vão para os livros. E são de autores da própria cidade.
Com tudo isso percebi que os monitores do Mundo da Leitura, não se preocupam apenas com o produto “livro”, mas valorizam os três instrumentos necessários para o fazer literário; o leitor, o livro e o autor.
Nas quatro palestras que ministrei falei para mais de 700 pessoas dos municípios de Sarandi, Barra Funda, Rondinha, Boa Vista das Missões, Palmeiras das Missões, Constantina e Passo Fundo. As palestras lotaram de adolescentes e jovens querendo participar. E percebi que todos eles tiveram um preparo para esse momento. Muitos leram o livro e fizeram grupos de estudo em torno dele. Portanto, eu já não mais esperava qualquer pergunta.
Concedi seis entrevistas para rádio, TV e para estudantes de jornalismo, falando de “Literatura” para ouvintes e telespectadores. Entendem? Falando de “Literatura”. Ressalto isso porque na maioria das entrevistas que dou, sempre querem saber qual a minha opinião sobre a violência na periferia, sobre a posição de fulano a respeito disso e daquilo, enfim, falo de tudo, menos do que eu gosto; a Literatura.
No segundo dia, eu estava com a manhã livre, e como sempre faço, saí do hotel para andar pelo centro da cidade. E não é que parecia que todos me conheciam?
Encontrei um monte de leitores pelas ruas, uns apontavam dizendo:
- Olha, é o Sacolinha, aquele das 85 Letras.
Outros me paravam para uma prosa. De noite encontrei mais três pessoas que disseram ter me visto passeando pelas ruas centrais.
É, não é a toa que Passo Fundo é a Capital Nacional da Literatura, os envolvidos com o projeto fazem jus ao nome. Que nasçam outras capitais da literatura, para que o leitor tenha um olhar literário e não somente de passa tempo e entretenimento. Para que o livro tenha seu valor histórico e cultural reconhecido e que o escritor seja valorizado como um trabalhador das letras, alguém que consiga sobreviver com o que faz. Como exemplo, eu cito o próprio Moacyr Scliar, meu amigo, que mora em Porto Alegre e tem mais de 70 livros publicados, mas até hoje ele não consegue sobreviver com as vendas dos livros e com as palestras. Ministra aulas de medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul para complementar a renda.
E como se não bastasse tudo isso nesta cidade, fiquei vislumbrado com as estrelas no céu. Os professores que estavam comigo na volta de Sarandi, até estranharam, mas expliquei que aqui em São Paulo não se tem mais a oportunidade de ver as estrelas, a poluição e a correria do dia-a-dia não deixam. E pra ter uma idéia do sossego existente em Passo Fundo, os carros atingem uma distância considerável um do outro e consegue-se andar tranquilamente com o carro na quinta marcha. Viva a economia de combustível e a qualidade de vida.
A cidade é grande, mas consegue-se atravessá-la em 15 minutos. O ar tem aquele cheiro gostoso de mato e terra. É a natureza em evidência.
Vou-me embora para Passo Fundo, é lá que vou viver bem com os cinco filhos que pretendo ter.
Sacolinha, é autor dos livros “Graduado em Marginalidade” (romance – ed. do autor) e “85 Letras e um Disparo” (contos – 2ªed. Global editora).
Um comentário:
Nossa que deu até vontade de conhecer Passo Fundo, uma cidade que respira literatura... e ainda por cima dá tempo de ver as estrelas, e de reconhecer as que vem de fora ^^.
adorei!
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