terça-feira, 7 de agosto de 2007

Correio, uma aventura – jonilson montalvão

Às 14 horas no correio, sentado e esperando postar uma carta. A 212. A 213, olho meu tíquete: D 613, penso: será que vou esperar muito? Pessoas que ficam ali na minha frente, também esperando alguma coisa, um chamado, sei lá. Não sei mais nada. Absurdo essa agência do Correio. Olho as placas; um monte de coisas para a gente comprar. Num painel eletrônico, fixado acima de nossas cabeças, mas bem acima mesmo, talvez para não fixarmos olhos nele, números piscam.
Depois de algum tempo, parado, digo, sentando, começo a entender os números e as letras de cada tíquete, que são os números chamados pelo placar eletrônico. A é a letra que corresponde a atendimento especial. Todos que chegam precisando deste tipo de atendimento são A. Poxa vida como eu gostaria, nesse instante de ser A; muito me admira um monte de gente com a letra A, talvez todos estejam realmente precisando de um tipo de atendimento especial. Será que o Correio terá essa capacidade? Sei não, esses funcionários não tão lá com muita vontade. Dá pra sentir no jeito que eles atendem as pessoas. Alguém chega e pergunta algo, o atendente olha a pessoa, faz lá sua prerrogativa, justifica algo que deixa a pessoa com mais dúvida ainda; é engraçado, de onde estou ouço alguma coisa: a senhora que queria colocar uma carta simples chega e pergunta como ela faz pra postar uma carta. A atendente bem rude diz que ela precisa ir até na outra extremidade do Correio e pegar um tíquete e aguardar a sua vez de ser chamada. A senhora não sabendo onde deveria pegar o tíquete ainda justifica que sua carta é só selar, coisa simples, aí a atendente diz que então ela pode comprar um selo na loja ao lado do Correio. A senhora fica ali, perplexa, pelo menos parecia - eu nem fico mais, pois já sabia disso já há algum tempo – depois ela sai, não a vi mais.
Eu precisava realmente postar aquela carta, e como não era um selo simples, era uma carta registrada, mais garantia de chegar ao local, precisava esperar, não tinha outro jeito, se não já teria saído, como bem recomendou a simpática atendente. Esperar já é uma virtude do brasileiro não é mesmo?, somos especialistas em esperar e eu não sou diferente de ninguém pois fiquei ali prostrado, quer dizer sentado, esperando gentilmente ser atendido.
Mas como eu estava explicando sobre os tíquetes e seus números e letras, vamos lá: o A eu já expliquei; tinha o C, que eu imaginei ser para tipos de serviços que agora as agências dos Correios fazem e que antes eram responsabilidades dos Bancos, como receber contas por exemplo. O meu número era iniciado pela letra D, que eu supus, lendo na máquina onde se retira os tíquetes, ser para selos e afins. Pois bem, o painel eletrônico continuava sua saga, sempre atento e nunca decepcionando seus admirados e esperançosos espectadores que ali esperavam o seu número aparecer. No painel apareciam as letras por algum tipo de ordem que eu não decifrei, talvez da próxima vez eu consiga. Às vezes aparecia a letra A seguida do número, depois A novamente. Aí já era demais né?, todo mundo aqui precisa de atendimento especial é? pensei querendo falar alto. Mas a boa educação que a escola primária me deu barrou esse pensamento me fazendo só cochichar algo com a pessoa ao meu lado, que também, insatisfeita com o atendimento da agência, reclamava algo que eu não conseguia entender. Pois bem, somos assim, reclamamos quando nos cabe e a educação vale em qualquer lugar.
Depois de um longo período aparecia a letra D; opa! é a minha!, mas o número não. Tá bom, não custa nada esperar mais um pouco. Ainda fiz uma menção de ler. Tirei o livro da mochila e quando ia começar alguém me pergunta como fazer para postar uma carta, explico que é simples, basta ela ir na máquina, retirar um tíquete e esperar. Ah, quase ia me esquecendo, não é qualquer tíquete não, tem que ser o que o senhor usará, o específico. Mas se o senhor quiser mais agilidade basta ir na loja ao lado e comprar selos. Ele me olha e fala algo e agradece. Bom, pelo menos meu tempo aqui não está sendo atoa, estou sendo útil.
Agora sim, começo a ler. O painel apita, é o jeito dele avisar que os números estão sendo chamados. Bem inteligente, se só piscasse ninguém saberia, pois aja pescoço para ficar olhando ali pra cima. C 515, parece coisa de bingo. Penso em anotar alguns números para depois jogar no bicho. A moça do meu lado tem o tíquete C, eu consigo ver olhando pra mão dela, mas o número eu não vejo. A de novo. Uma senhora se levanta e vai até o guichê. Mas não é a vez dela. Aqui as coisas são bem organizadas. Isto é que é serviço de qualidade, ISO alguns números, sem piadinhas com os números do painel. D 611. Faltam dois números, pelo menos nesta seqüência sim, mas aí entram os outros atendimentos. Bom, de qualquer forma estamos perto.
Ah, esqueci de mencionar que na agência há 7 caixas, e só 2 funcionários atendendo. São heróis. Fazendo das tripas corações para colocarem o trabalho numa tal ordem que quase me emociono olhando aqueles dois pobres funcionários ali, ralando, dando tudo de si naquela repartição. Correio é público? Penso nisso. A novamente. Caramba, um dos intrépidos funcionários se levanta e vai até o outro caixa, pega algo e volta, vira a placa que fica acima do guichê. FECHADO.
14 horas e 38 minutos. Não leio nem uma linha nesse tempo todo que estou aqui. 38 minutos até então. Falta um número para ser eu o atendido. Olho para as pessoas que ali estão, todas com ar cansado, tristes, sem motivação alguma para reclamarem de nada, tampouco eu. Fico ali só esperando minha vez. Quero apenas selar uma carta; só isso. Os atendimentos especiais são atendidos, com todo o direito, na frente dos outros. O que possuem a letra C, vão um pouco mais rápido do que possuem, assim como eu, a letra D; e assim o excelente serviço prestado pelos Correios se mantém. Poucos funcionários, atendimento precário e com má vontade. Situações de extremo desconforto para os usuários. Ah sim, como poderia me esquecer disso: essa agência que fica no Itaim Paulista - periferia, subúrbio, (porra que lugar é esse?), lugar onde Judas perdeu as botas, bairro dormitório etc etc etc... - assim como algumas agências bancárias, também investiu muito no conforto dos usuários, sabem como? colocando cadeiras para a gente sentar e ficar confortavelmente esperando sermos atendidos.
Bom, reclamar não é muito meu forte, mas quero encerrar dizendo que ainda fiquei esperando mais uns 10 minutos, isso quer dizer que foram 48 minutos de espera. Mas ainda bem que eu estava sentado e com um tíquete na mão, que me dava direito de postar uma carta. Saí da agência com uma sensação de idiota, paspalho mesmo. E para não dizer que fui omisso, nem submisso ainda tentei ligar para o 0800 deles, adivinhem o que aconteceu?

Um comentário:

Anônimo disse...

nooosaaa, esse é o nosso sistema que "funciona" né?