sábado, 1 de março de 2008

ESTADO BRASILEIRO

Texto: Jorge Américo
Ilustração: Jam ("Pão e Circo Sobre Papel")
"Todo o poder emana do povo"
(E nunca será exercido por ele)

O poder emana da vala comum
–Lugar onde escondemos nossa vergonha e decadência–

O poder emana
De uma facção criminosa
Que pegou em armas
Por ser privada de pegar em livros

A Soberania Nacional é mérito irrevogável,
Conquistada à sombra de uma mentira bem contada
E pouco importa a barriga vazia,
A cabeça inchada,
Os pés descalços,
As retinas embaçadas,
Os corpos desnutridos,
Os defuntos sem identificação...

Os três poderes
Fundiram-se numa única instituição
E o pensamento político nacional
Virou sinônimo de aberração:
O Legislativo, o Executivo e o Judiciário
São, hoje, apenas repartições públicas
E os seus chefes, burocratas em final de carreira


Queria ter coragem de
Invadir o Congresso Nacional
E metralhar todo mundo
Com ovo podre e tomate maduro

Queria ter coragem de
Mutilar as tetas da vaquinha
Que amamenta o Soberano e seus aliados


Queria ter coragem de
Defecar ao ar livre
E depois usar a bosta
Para escrever um verso de protesto
Na fachada da Suprema Corte...
E, por fim, dizer
Que fiz Arte Pós-Moderna.
Porém, a mais bela das gramáticas
Não me quer como amante
Ela prefere os nascidos em berço esplêndido

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