Desde que acordei naquela madrugada suado e esbravejando contra os pernilongos ainda rememoro os atos; a memória é esse caso sério mesmo e contra isso eu nada posso. Tampouco agrada-me essa idéia de lutar contra algo, por mais metafísico que isso seja...minhas imaginações – o ato de criar imagens – não me atormentam, apenas seguem-me como uma companheira de boa índole e sem nenhum prejuízo a causar-me.
Datas e dedicatórias, me lembro de Quintana e de Manoel de Barros e persigo, como não querendo, apenas em sugestões, algo; mas, também, como já disse, nada me atormenta, nem deveria mesmo, pois o que é o algo?,
criar e desfazer são um mesmo ato e depois de ter lido algumas literaturas e de me desmentir a quase todo instante, depois de tudo isso tento pasmar-me de aflição e quase consigo, quase que consigo e ainda penso num jeito de me deixar afluir por aí enquanto tudo esbanja seus desejos paranóicos. Vivo simplesmente e nada, agora, me realça tanto assim...em sã autonomia de minha própria vida, em consciência com o simples.
Levanto quase dormindo depois de tudo e penso e ajo tomando um copo de água fria e caminho até a janela da sala, olho lá pra fora e vejo a luminosidade reinante, desnatural e apocalíptica entrelaça toda a cidade; ela brilha, ela brilha...como brilha essa cidade. Os prédios de vida própria com suas próprias radiações, seus luzeiros que não piscam. Da minha janela dá pra ver tudo isso. Não identifico um ser humano ali naquele meio fantástico de cores e vibrações; as luzes piscam conforme eu as olho; fico ainda um tempo ali parado consternado diante da impotente cidade daquela hora, a hora que diz em sinais e relampejos disformes.
Os prédios monstruosos arrebentando com a visão descontínua; janelas dos apartamentos acesas, imagino as pessoas circulando dentro dos apartamentos, uma luz ao lado revela que alguém se levantou, outra que se acende e apaga, como um vaga-lume gigante e ainda outra e mais outra; os sonâmbulos da madrugada adentram a perspectiva.
Limitado, eis-me, olhando por entre esse vínculo...eis-me pasmado. Daqui todos e tudo são as próprias metáforas da vida, são as próprias condições que, enquadradas, alucinam e criam as cataratas reluzentes. Mas acima de mim, também, se cria ilusões e não há um pormenor sequer como que querendo dizer sim e ao mesmo tempo negando as imagens. Todos, tudo...mas nessa madrugada descontínua e repleta de coriscos, faíscas, alusões aos sentidos pueris sou, também, uma luz e brilho aqui, nesse espaço manufaturado e incoercível; a cidade brilha, ofusca as visões noturnas e acima daqui, ali, logo ali.
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