domingo, 24 de outubro de 2010

Fatalidade

Texto: Jorge Américo
Ilustração: Mgnus Muhr

A larva, parida ao sol do meio-dia,
Precisava, segundo determinações da natureza,
Evoluir em mosca
Reproduzir
Envelhecer
E morrer
Num prazo de 24 horas

Após o êxtase da metamorfose,
Entoava cânticos de alegria
Zunindo pelos ares e pelos lares...

De repente, uma fatalidade:
A morte precoce
(maquinada por uma mente perversa)

Certamente que morreria
Afogada num prato de sopa
Ou devorada por um réptil
Ou ainda, de indigestão, dispersa num acúmulo de fezes...
Mas a ação humana a impediu de ter uma morte natural
O moribundo inseto
Teve membros atrofiados
Insuficiência respiratória
Falência múltipla dos órgãos
E expiou envolvido numa nuvem de aerosol:
Desfecho dramático de uma vida desprovida
De grandes aventuras amorosas
E badaladas noites de verão

Era, apesar da futileza,
Uma mosca de bom coração
Pois voa agora, por intermináveis horas,
Sobre um jardim de purezas infinitas.

Um comentário:

Samara Oliveira disse...

Pode ser que ela tenha tido sorte, não morreu de depressão e não morreu na merda...