quarta-feira, 15 de abril de 2009

Para discussão!

Artigo publicado originalmente na revista "Cultura e Pensamento" - Governo Federal, em novembro de 2007.

As palavras: o futuro dos livros e da literatura

Sacolinha


Antes das palavras, dos livros e da literatura, quero ressaltar aqui a cultura da leitura e do fazer literário. É justo lembrar que nenhum livro cai do céu, antes precisa ter o escritor e a idéia. E que, acima de tudo, o escritor precisa ser valorizado.


Cultura do imediatismo e da objetividade

Quero chamar a atenção do leitor para a atual e “massacrante” cultura do imediatismo e da objetividade. Vivemos num país onde tudo tem que ser rápido e produtivo. As máquinas que a partir do fim do século XX começaram a substituir o homem são prova disso.

Por que?

Porque ela produz mais e muito mais rápido que o seu próprio inventor.

Outro exemplo é o sucesso das redes de fast food, que cresceram assustadoramente por conta dos “lanches rápidos” que as pessoas fazem porque, ou têm que correr para o serviço, ou porque não tiveram tempo de preparar uma marmita em casa, ou por outros motivos, todos eles ligados à falta de tempo.

Pois agora vamos aos livros: Antigamente as obras literárias tinham naturalmente 700, 800, 1000 páginas. Tudo porque naquela época (1600, 1700, 1800) as pessoas não tinham tantas preocupações e ocupações, portanto, tinham mais tempo pra se dedicar àquilo que se propunham a fazer. Vale citar como exemplo o livro “Guerra e Paz” de Leon Tolstoi, que foi escrito de 1865 à 1869, tem mais de 1200 páginas e é uma das obras mais volumosas da história da literatura universal.

Quando chegamos ao século XX os livros começaram a diminuir para 300, 200, 100 e até 50 páginas, com imagens e enfeites (vale lembrar que a riqueza não são as imagens, são as idéias traduzidas em palavras). Cabe citar também a obra “A revolução dos bichos” de George Orwell, que fez um grande sucesso no mundo inteiro e é considerado um clássico da literatura universal. Passou uma idéia maravilhosa para o papel, uma verdadeira crítica social em pouco mais de 80 páginas.

Tivemos a invasão dos contos, mini-contos, haicais e frases para reflexão.

Augusto Monterroso, escritor guatemalteco, escreveu no ano de 1959 o menor conto do mundo contendo apenas 37 letras:

Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá”.

Isso provocou uma série de escritores, intelectuais e pensadores que acabaram encarando este mini-conto como um desafio. E a partir daí nasceu uma enxurrada de pensamentos, frases e textos que falaram muito com pouco.

Como será daqui à 200 ou 300 anos?

Será que haverá tempo para dizer algo?

Que escritor vai se atrever a escrever histórias acima de 50 páginas?

Com essa enxurrada de notícias e informações que recebemos todos os dias e horas via carta, internet, rádio e tv, será que haverá leitores interessados em literatura?


Livro, meio ambiente e era DIGITAL

Antigamente, pelo andar da carruagem, e hoje, pelo andar dos carros, tudo caminhou e caminha para o fim do livro. Não digo do fim da literatura. No futuro talvez não haja mais lugar para esse dispositivo no formato ao qual estamos habituados.

Na era digital é justamente esse paradigma seqüencial e linear do livro impresso que está entrando em crise e não o livro propriamente dito.

Seja em madeira, argila, papiro, papel ou na tela do computador, não importa é livro do mesmo jeito. O homem escreveu seus primeiros códigos de comunicação em pedra, tijolos e madeira.

A idéia do fim do livro impresso pode se concretizar graças aos ambientalistas que logo cairão de protestos em cima da produção gráfica e editorial, pois nunca se produziu tanto como agora. São livros didáticos e pára – didáticos, técnicos e pedagógicos, ficção, romance, conto, crônica e poesia e etc. São milhões de páginas todos os dias e muita tinta para produzir centenas de livros e abastecer livrarias, bibliotecas, estudantes, universitários, profissionais e leitores vorazes.

A combinação de três fatores garantiu, a sua época, o sucesso do livro impresso em relação aos manuscritos: portabilidade, baixo custo e capacidade de ampla e rápida difusão. Como vimos esses dois últimos fatores atuam a favor dos meios informatizados. O único empecilho, no entanto, parece ainda ser a portabilidade. Os defensores do papel alegam que não dá para levar o computador para cama ou para o sofá, nem muito menos ler um livro digital no ônibus ou no metrô.

O que será então do tradicional formato do livro impresso quando a tecnologia conseguir telas de computador com a espessura de uma folha de papel?

O que não é difícil e nem está longe de acontecer. Há pessoas que, contentes, já pensam com o que vão ocupar o espaço onde hoje estão as estantes e os livros.


Infelizmente o livro ainda não é acessível á todos, mesmo com as milhares de bibliotecas, centenas de projetos de incentivo à leitura e milhões de discursos demagógicos. Imagine então se mudar o formato para meios informatizados como livro digital, book e áudio book?

Tirando do ponto de vista que é mais dificultoso e de alto custo o governo doar ou emprestar disc man, pen drive, lip-top e outros objetos informatizados.

Dentro de tudo isso colocado, gostaria de dizer que como escritor, acredito no livro como agente transformador do ser humano.

Dependendo de mim, o tradicional e atual formato do livro nunca terá fim.


Sacolinha tem 25 anos, nasceu na cidade de São Paulo e é formado em Letras pela Universidade de Mogi das Cruzes. É escritor, autor do romance “Graduado em Marginalidade” (2005) e do livro de contos “85 Letras e um Disparo” (2007) em sua 2ª edição pela Global editora. Atualmente trabalha como Coordenador Literário da Prefeitura de Suzano e administra o Centro Cultural Boa Vista.

Blog: www.sacolagraduado.blogspot.com

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