quinta-feira, 6 de novembro de 2008

CARROCEIRO

Texto: Jorge Américo
Ilustração: Antonio Siqueira
Carroceiro, garimpa o lixo
E encontra nele
Remédio
Para a síndrome da deficiência alimentar

Carroceiro, largue esta carroça
– herança da linhagem eqüina –
E vá para o teu palácio
Porque a Família Real o aguarda
Com um sorriso no rosto
E um vácuo no estômago

Carroceiro, devorai os restos de lixo
Contemplai as páginas do livro já consumido pelas traças
E derrubai as construções de pensamento
Nas quais a mentira se edifica

Carroceiro, decretai a nova regra de sobrevivência
Atravessai o Atlântico, o Pacífico, o Índico, o Ártico e o Antártico
E proclamai em alta voz
A Lei Universal
Que é direito adquirido
Do homem nato e do homem não-nascido

Carroceiro, dizei aos chefes de Estado e aos seus subordinados;
Aos capitalistas e aos socialistas;
Aos burgueses e aos proletários;
Aos cristãos e aos ateus;
Aos pacificadores e aos terroristas;
Aos leigos e aos letrados;
Aos mansos e aos brutos;
Aos que sofrem e aos que fazem sofrer;
Que
Está terminantemente proibido
Morrer ou permitir que se morra de fome


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